Um detalhe que não passa despercebido a qualquer um que se diga umbandista
e que procure se manter atualizado sobre as noticias do movimento é o
uso abundante do nome Zélio Fernandino de Moraes e do Caboclo das Sete
Encruzilhadas.
Parece que depois do centenário e da publicação em massa
da conhecida história do rapaz de 17 anos e a manifestação do espírito
em 15 de novembro de 1908, usar o nome de Zélio e do Caboclo serve muito
bem para uma referência histórica, quase que uma lenda que explica (em
tese) a razão de existir do culto popular praticado.
Muito se fala da data, sobre Zélio e até mesmo sobre algumas
mensagens do Caboclo, mas sempre omitindo aquilo que, ao que me parece,
não convém ao dirigente e (ou) ao umbandista que reconhece a fundação
da Umbanda em 1908.
E o rito ? qual era o rito que praticava Zélio ?, (ou melhor,
respondendo já àqueles que abominam, assim como eu, a interferência do
homem no rito de Umbanda) , qual era o rito e a doutrina deixados pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas, Pai Antônio e Mallet ?. Pouco procura-se
saber do rito praticado pela Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade
(que em mensagem do Caboclo, seria a Umbanda que ele deixava para ser
seguida, ao ser indagado do porque das sete Tendas terem adotado o
atabaque e outras alterações ritualisticas) .
Poucos umbandistas
saberiam responder com precisão. Mas a história de 15 de Novembro de
1908 está em todas as páginas virtuais de Tendas, Terreiros, Associações
e Federações de Umbanda. O ar de incoerência e a manipulação de
informações prevalecem.
Existem explicações infundadas de dirigentes e umbandistas sobre o
uso de atabaques onde afirmam o não uso destes na TENSP por causa da
repressão social e policial da época.
Se fosse esta a razão, então o que explica a inexistência de
instrumentos musicais nos ritos da TENSP em pleno século XXI , 100 anos
após a fundação, onde a intolerância religiosa é combatida tanto por
esferas socias e governamentais?.
O que impediria Zélio ou o Caboclo de
adotar o atabaque em Boca do Mato, Cachoeiras do Macacu, região serrana
do Rio de Janeiro na década de 50, quando foi fundada a Cabana de Pai
Antônio, lugar afastado, na propriedade rural de Zélio?
Em outros casos, vemos afirmações absurdas sobre a Linha de Umbanda
Branca e Demanda (denominação dada por Leal de Souza ao rito do Caboclo
das Sete Encruzilhadas em seu livro, “O espiritismo, a magia e as sete
linhas de Umbanda”-1933) como a encontrada nos livros de Ronaldo Linares
sobre as sete Tendas fundadas, onde consta estranhamente “Tenda Cosme e
Damião”, “Tenda São Lázaro”, “Tenda Santa’na”, para fundamentar ou
simplesmente figurar mais uma leitura própria das famosas Sete Linhas de
Umbanda.
Usa-se a imagem de Zélio para embasar com um “quê” de seriedade e de
“tradição”, de passado necessário os cultos que, na maioria das vezes,
se encontram distantes na prática da Umbanda com humildade, em busca da
caridade e com amor ao próximo como ensinou o Caboclo das Sete
Encruzilhadas e Zélio em seus ritos de Umbanda na TENSP.
Parece que ao ganhar em votação na primeira reunião do C.O.N.D.U em
1976(?) de 13 de Maio (dia da Libertação dos Escravos) e de 22 de
Novembro (dia de Araribóia ), para o dia nacional da Umbanda, o 15 de
Novembro, Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas acabaram por se
tornar apenas figurantes e um excelente ponto estratégico para
fundamentar prerrogativas de dirigentes preguiçosos e mal informados.
É conveniente usar a história de 1908 e fingir desconhecer a mensagem
do caboclo quando diz “..usai roupas simples durante a sessão, pensando
sempre no bem-estar do seu irmão sem condições”, quando se veste
camisas de seda, bordados, babados, saias rodadas, roupas coloridas e
afins ou quando se abusa de adereços e objetos para os trabalhos,
enquando que a pregação de Zélio, era usar apenas uma guia no pescoço
por vez, o da entidade que viria a se manifestar…
A Umbanda do Caboclo das Sete Encruzilhadas é sim de amor, humildade,
caridade, mas há que lembrar e respeitar sempre que citada, que ela
possui métodos próprios e ritos particulares para o alcance destes
objetivos universais e comuns a todas as religiões, usando o mediunismo e
a magia como instrumento em suas sessões. Existe o seu rito próprio de
Umbanda.
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