Embora não seja um consenso entre os umbandistas, a maioria considera
o dia 15 de novembro de 1908, data da primeira manifestação do Caboclo
das Sete Encruzilhadas no médium Zélio Fernandino de Moraes, como sendo a
data de fundação da Umbanda.
Embora a menção histórica mais antiga desse fato seja de 1948 (uma
foto tirada nesse ano no Centro Espírita Caminheiros da Verdade, na
sessão comemorativa dos 40 anos da Umbanda, disponível na página 30 da
revista Nossa História de outubro de 2006), os relatos mais
popularizados sobre a primeira manifestação do Caboclo das Sete
Encruzilhadas foram compilados no início da década de 1970, de forma
independente, pelos jornalistas Ronaldo Linares e Lília Ribeiro.
Em ambas as histórias, obtidas através de entrevistas com o próprio
médium Zélio de Moraes, podemos ler que a primeira manifestação do
Caboclo das Sete Encruzilhadas, naquele médium, teria ocorrido em uma
sessão realizada na federação espírita de niterói, cujo nome verdadeiro
era Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, no dia 15 de
novembro de 1908.
Buscando encontrar registros históricos que comprovassem a veracidade
do fato relatado por Zélio de Moraes, o médium Márcio Petersen Bamberg,
também conhecido como mestre Thashamara, entrou em contato com o
Instituto Espírita Bezerra de Menezes, nome atual da antiga Federação
Espírita do Estado do Rio de Janeiro, e foi informado que no Livro de
Atas nº 1, da federação, não constava nenhuma sessão realizada naquele
dia.
Um renomado pesquisador da história umbandista, o médium José Henrique Motta de Oliveira, também conhecido como mestre Arashakamá,
chegou a lamentar na página 94 da sua obra “Das Macumbas à Umbanda”,
que se o fato realmente tivesse ocorrido, poderia não ter sido na
federação de niterói, mas em algum centro espírita filiado a ela, cujo
nome teria se perdido ao longo da tradição oral.
Embora ainda não tenha como comprovar com registros históricos,
o nome do centro espírita onde teria ocorrido a primeira manifestação
do Caboclo das Sete Encruzilhadas não se perdeu: o nome dele é Grupo Espírita Santo Agostinho.
E como cheguei a esse nome? Tentarei resumir a história para vocês.
A primeira ideia veio do próprio médium Márcio Bamberg: naquele mesmo contato com
o Instituto Espírita Bezerra de Menezes, ele foi informado que a
federação espírita de niterói não possuía sede própria em 15 de novembro
de 1908, ocupando uma sala na Rua da Conceição nº 33, no centro de
Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro.
Nas diversas vezes em que eu
li essa informação, nunca me chamou a atenção o fato da federação não
possuir sede própria. O estalo para isso veio quando eu li o livro “No
Mundo dos Espíritos”, de Antônio Eliezer Leal de Souza. Lá, em sua
página 368, Leal de Souza nos diz que a Federação Espírita do Estado do
Rio de Janeiro era filha do Grupo São João Baptista e abrigava nas
salas de sua sede, além deste grupo, mais dois centros espíritas, isso
em 1924. Quando eu li essa informação, pensei na hora: se a federação
abrigava centros espíritas em suas dependências em 1924, será que a sala
que ela ocupava em 1908 não era uma sala da sede do Grupo São João
Baptista, centro que lhe havia dado origem?
Com essa ideia na cabeça, entrei em
contato com o próprio Instituto Espírita Bezerra de Menezes, buscando
comprovar a veracidade dessa informação do Leal de Souza. Para minha
surpresa, descobri que a sala que a federação usava como sede em 1908
não pertencia ao Grupo São João Baptista e, sim, ao Grupo Espírita Santo
Agostinho. Nesse mesmo contato, fui informado que ambos, Grupo São João
Baptista e Grupo Espírita Santo Agostinho, eram dois dos centros
fundadores da Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, em 30 de
junho de 1907, e que dessa data até algum momento da década de 1910, a
federação funcionara na sede do Grupo Espírita Santo Agostinho, na Rua
da Conceição nº 33, no centro de Niterói, então capital do Estado do Rio
de Janeiro.
Assim sendo, quando Zélio foi à
Federação Espírita de Niterói, em 15 de novembro de 1908, ele na verdade
foi à sede do Grupo Espírita Santo Agostinho, local onde funcionava a
federação.
Talvez nunca saibamos qual era a
instituição que realizava a sessão naquele dia, mas muito provavelmente
não era a federação e sim o Grupo Espírita Santo Agostinho. Por que
suponho isso? A dica foi deixada pelo próprio Caboclo das Sete
Encuzilhadas (o negrito é meu):
“(…) que na Federação Kardecista do Estado do Rio, presidida por José de Souza, conhecido por Zeca e rodeado de gente velha, homens de cabelos grisalhos, um enviado de Santo Agostinho chamou meu aparelho, me chamou, para sentar à sua cabeceira. (…)”
(FONTE: Transcriação do áudio da fita 52, gravada pela jornalista Lilia Ribeiro, em novembro de 1971).
Segundo a tradição oral registrada
independentemente pelos jornalistas Lilia Ribeiro e Ronaldo Linares,
quem convidou o médium Zélio de Moraes a se sentar à mesa foi o senhor
José de Souza. Daquele contato do médium Márcio Bamberg com o Instituto
Espírita Bezerra de Menezes, que citei bem mais acima, sabemos que o
senhor José de Souza não fazia parte dos quadros da federação em 1908. E
como o próprio Caboclo das Sete Encuzilhadas nos diz na transcrição
aqui acima, o senhor José de Souza era um enviado, um representante de
Santo Agostinho. No momento só podemos especular, mas me parece que o
Santo Agostinho ao qual o Caboclo se referia não era o santo
propriamente dito, mas sim o nome do Grupo Espírita representado pelo
senhor José de Souza.
Um grande abraço a todos.
@conectadosnoaxe
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